Crítica Jane Austen

Orgulho e Preconceito, de Jane Austen

12:11Kellen Pavão

"A vaidade e o orgulho são coisas diferentes, embora as palavras são muitas vezes utilizados como sinônimos. Uma pessoa pode ser orgulhosa sem ser vaidosa. Orgulho se relaciona mais a nossa opinião de nós mesmos, a vaidade, o que teríamos que os outros pensam de nós." 



Se eu precisasse eleger um romance pra levar comigo a uma ilha deserta, Orgulho e Preconceito certamente seria o escolhido. Mas antes de contar as minhas razões vou falar um pouco sobre esta que é uma das histórias de amor mais lidas na Inglaterra e no mundo. 

A famosa história se passa na Inglaterra do século XVIII e se desenvolve a partir do núcleo familiar de Elizabeth Bennet, protagonista e narradora (e por sinal minha personagem feminina favorita da literatura). Pelos olhos de Elizabeth conheceremos não apenas sua vida e personalidade, mas também sua família, e os padrões sociais tão determinantes na vida de todas as pessoas que a cercam.

Elizabeth (ou Lizzie como também é chamada a protagonista) é uma jovem segura e centrada que vive com os pais, e tem perspectivas bastantes diferentes de quase todos à sua volta, o que a faz com que ela se torne de certa forma uma espectadora da história.

"Eu tenho sido um ser egoísta, toda a minha vida, na prática, embora não em princípio."


A protagonista tem pensamentos muito à frente de seu tempo, odeia bajulação e as forçadas convenções sociais, o que a faz com que ela se destaque da maioria das mulheres que a cercam, ainda que aos olhos da mãe seu comportamento seja visto com maus olhos. Sua visão moderna, e sua franqueza alimentada pelo seu discreto sarcasmo, acabaram fazendo com que Lizzie se refugiasse em seus livros, na companhia do pai e na amabilidade da irmã Jane, a única irmã que ela verdadeiramente admira.

Lizzie pouco suporta o comportamento espalhafatoso de suas outras irmãs e de sua mãe, sempre preocupada em encontrar um "bom partido" para as filhas. E por bom partido entende-se - homem rico e de família tradicional, já que o amor era considerado algo supérfluo e desnecessário na hora de conseguir o sonhado matrimônio.


Como era de se esperar, Lizzie não se surpreende com os primeiros pretendentes (para desespero da mãe) e enquanto os rejeita, ironiza com sutileza as insuportáveis convenções sociais. 

"Não tenho qualquer pretensão a esse tipo de elegância que consiste em atormentar um homem respeitável."


Sua mãe é uma senhora frívola, capaz de tudo para ver suas filhas casadas enquanto seu pai assiste aos devaneios da esposa passivo e indiferente ao rumo da família. Ele só dedica sua atenção à Lizzie, a quem admira pela inteligência, sensatez e  pelo espírito de independência.

Assim que é apresentada à sociedade, Elizabeth conhece Fitzwilliam Darcy, membro da alta sociedade inglesa, cujo orgulho e arrogância se destacam e lhe causam uma imensa antipatia. Este sentimento é recíproco e Darcy à princípio se incomoda com o temperamento forte e a franqueza de Elizabeth.

O romance dos dois se desenvolve de maneira discreta, já que, a princípio, ambos não se suportam. O pano de fundo da história é a alta sociedade, o comportamento espalhafatoso de suas irmãs e de sua mãe, a discrição de Jane e seu romance velado com o Mr. Bingle, e as análises de Lizzie acerca do comportamento bajulador e interesseiro da maioria dos que a cercam.

A narrativa não se prende à detalhes como figurino ou locações, entretanto descreve longas cenas cotidianas envolvendo jantares, chás, encontros e tudo que diz respeito às formalidades da sociedade representada, o que faz com que as pessoas e a sociedade sejam o centro da história. Ao longo do livro, temos vários debates e diálogos entre diversos personagens que não estão no centro da história.

Apesar de julgar o amor e a liberdade de escolha como elementos fundamentais para conquistar um casamento feliz, Elizabeth é sensata o suficiente para saber da necessidade de um matrimônio para o seu sustento no futuro (afinal estamos falando do século XVIII), fazendo com que ela tente se adequar aos padrões exigidos pela sociedade.

"É uma verdade universalmente reconhecida, de que um homem solteiro na posse de uma boa fortuna precisa se casar." 

Lizzie muitas vezes utiliza as festas e convenções para sociedade e se submete aos eventos sociais costumeiros, aos quais encara com ironia e sarcasmo. Os laços entre o casal protagonista se estreitam e eles são obrigados a se confrontar, entrando em cheque o orgulho e a vaidade característica de ambos. No fundo ambos as diferenças e o aparente desinteresse acaba se provocando uma intensa atração entre eles, o que se manifesta de forma surpreendente.


Mais que um romance, Orgulho e Preconceito apresenta uma forte crítica social e traça um belo panorama da sociedade inglesa do século XVIII. Através de sua heroína nada convencional, Jane Austen contesta o papel da mulher na sociedade de forma pontual ao longo de toda a história e brinca com a hipocrisia das tradições da época.

Elizabeth e Darcy protagonizam cenas lindíssimas e de muita tensão, já que a paixão entre ambos se desenvolve de forma velada. É uma obra riquíssima, principalmente pelas características independentes da heroína, o que é difícil de se imaginar em se tratando da alta sociedade inglesa do século XVIII.

O livro ganhou versões no cinema, no teatro e até na televisão, e é um dos mais lidos em todo mundo, sendo considerado um dos melhores romances do período regência. 





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